Este projeto foi inicialmente apresentado à Bolsa Vitae de Artes pela coreógrafa Andréa Bardawil, em 2000, e propunha a realização de uma mesma pesquisa estética unindo duas linguagens, o vídeo e a dança. O projeto foi realizado em parceria com o vídeomaker Alexandre Veras, e teve como resultado dois produtos distintos: o espetáculo e o vídeo-dança. Existem pessoas que sobrevivem à vida e, em alguns casos, à dor, de uma forma tão resignada, que mais parecem envoltos num manto de delicadeza, onde o tempo é próprio, composto de um olhar calado e profundo, que às vezes não é alegre nem triste, mas que é só espera. Deserto que não é vazio nem estéril, é cheio e potente, solidão povoada. A lentidão abre espaço para uma velocidade intensiva.
Gestos mínimos, movimentos econômicos. Silêncio. Velocidade é diferente de aceleração. O Tempo, sempre. O Tempo que se inscreve no rural e no urbano. O Tempo inscrito em cada corpo. Espera, contemplação, resignação, sobriedade, tantas impressões podem caber numa só: delicadeza.
A velocidade surge, então, como uma dimensão além da aceleração. Como um regime de disponibilidade onde pode colocar-se um corpo, independente de sua localização geográfica, uma possibilidade de construção de uma linha de fuga. Um tempo intensivo, potencializador dos encontros e dos afetos.
Nas viagens, exercício de recolhimento, o que mais se inscreveu em nossos corpos foi a desaceleração e o silêncio. Observar não deixa de ser um exercício de despojamento. Deixa-nos de frente para a impossibilidade da linguagem. Vontade de não dizer mais nada, apenas provocar um deslocamento de olhar.
O que gostaríamos, então: provocar, no olho que vê e no corpo que presencia, uma desaceleração, uma suspensão de tempo, um silêncio, e que ele vibre onde encontrar qualquer possível. Que se construa no meio, no entre a forma, tentativa mesma de resguardar-se dos excessos.
Andréa Bardawil
Tocar a delicadeza parece abrir uma brecha no tempo, uma suspensão na urgência das coisas. Quando pensamos na delicadeza, ela sempre vem associada a algo que é mínimo e lento, como se sua forma implicasse uma certa economia e não comportasse excessos ou, em outra perspectiva, algo cujo signo excessivo sempre aparece sob a forma de uma retenção extensiva com dilatação intensiva. Um pouco como a poeira, que suspensa, parece reter na névoa o tempo que sucede ao agito de uma superfície. Gestos mínimos atravessados por uma névoa de virtualidades que contra-efetuam no movimento dos corpos a pressa que a vida parece ter.
Alexandre Veras
Ficha Técnica
Direção e Composição coreográfica: Andréa Bardawil Intérpretes-criadores: Andréa Sales, Evaldo Silva, Noara Rodrigues, Possidônio Teles. Direção de Vídeo: Alexandre Veras Edição: Alexandre Veras Câmera: Alexandre Veras, Glauber Filho Produção: Márcia Sucupira Assessoria de Comunicação: Thaís Andrade Figurino: Ruth Aragão Assistente de Figurino: Gil Cenário: Gustavo Adolfo Iluminação: Alexandre malta Operação de Luz: Fernando Peixoto Operação de Vídeo: Raimundo Nonato Projeto Gráfico: Galciani Neves Fotos: Daniela Millério Arranjos para “Assum Preto”: Moacir Bedê e Rian senise Composição de “O Tempo da Delicadeza”/trilha original: Guga de Castro e Júnior arruda Produção de trilha: Júnior Arruda Poesia citada: “Habitar o Tempo” e “Bifurcados de Habitar o Tempo”, de João Cabral de Melo Neto
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